Redação por Gabriel Marques

A guitarrada é um ritmo latino que marca a trajetória musical do estado do Pará durante décadas. Com acordes muito característicos, é impossível ficar parado ao ouvir a sonoridade do ritmo que é uma fusão do choro com carimbó, merengue mambo e muitos outros que marcam a bagagem musical latina.

É nesse contexto que o Pará se destaca por possuir artistas únicos que levaram a guitarrada para o Brasil e pelo mundo afora. Mestre Vieira é considerado o criador do gênero guitarrada que também pode ser chamada de lambada instrumental. Com ele, temos Pinduca, Barata e seu irmão Manoel Cordeiro, responsável por produzir muitos dos sucessos que marcaram uma geração.

“A Guitarrada está presente na vida de cada músico aqui da nossa região. Eu acho que o paraense toca guitarra como o nordestino toca sanfona”, explica Manoel, que apesar de ser um multi-instrumentista e uma referência no gênero não se considera um especialista em guitarrada. “Eu gosto de tocar guitarra, vários estilos. Produzi muitos discos e sempre me apropriei da guitarra de acordo com o sentimento que você vai botar naquele momento”, ele ressalta.

“A Guitarrada está presente na vida de cada músico aqui da nossa região. Eu acho que o paraense toca guitarra como o nordestino toca sanfona”

Cordeiro esteve presente na fase em que a guitarrada ainda não possuía tal nome. Esse processo ocorreu durante a década de 80 e as rádios foram veículos muito importantes na consolidação do gênero. Para se ter noção, foram os radialistas da época que apelidaram o estilo de lambada. Mas o nome só ficou marcado na memória do público em 1982, quando Pinduca lançou a música intitulada “Lambada”, batizando o gênero.

Paralelo a toda essa visibilidade do ritmo, Manoel Cordeiro largava seu emprego em um banco no Amapá para voltar a trabalhar com música. Nessa troca, ele acabou “caindo” em um viés de produção no famoso estúdio da Gravasom. De lá, saíram grandes sucessos do Pará, e Manoel produziu discos de artistas que se tornariam um sucesso, como Beto Barbosa.

“Eu cheguei na história e já estavam postos o Pinduca e o Alipio Martins produzindo. Eram os dois maiores produtores daqui e são duas referências super legais para a gente ouvir e entender a música popular da Amazônia” Relembra Manoel, que chegou a produzir 4 discos por semana. “Cheguei a produzir 4 discos por semana, era uma coisa louca, porque fazia sucesso e as gravadoras gostavam disso”.

“Cheguei a produzir 4 discos por semana, era uma coisa louca, porque fazia sucesso e as gravadoras gostavam disso”

Após trabalhar com vários artistas, em 2010 Manoel participou da produção do álbum de estreia de seu filho, Felipe Cordeiro. Foi em 2015 que o músico lançou seu primeiro álbum solo “Manoel Cordeiro & Sonora Amazônia” e colaborou com Felipe no álbum em conjunto intitulado “Combo Cordeiro” que misturava a Guitarrada em sua essência com elementos pop.

“Esse disco, eu acho ele emblemático porque sinaliza para uma tendência eletrônica mas mantém algo original, que é aquilo que foram os anos 1980”, conta. “Quando foi em 2015 a gente começou a perceber que já tinha uma linguagem legal e o Felipe sugeriu que a gente registrasse essa linguagem num disco”, explica o multi-instrumentista. Ao chegar no estúdio, ambos só tinham duas músicas e o restante foi desenvolvido em poucos dias. “Foi sensacional porque em uma semana, no estúdio, nós conseguimos criar o disco todo, os arranjos”, relembra Manoel.

Agora, quatro anos depois de seu primeiro álbum solo, Manoel Cordeiro nos revela que pretende lançar o segundo álbum em agosto. “Manoel Cordeiro Guitar Hero Brasil” vem como uma homenagem ao instrumento de paixão do músico e de muitos outros artistas do Pará e do país. “Não é ostentação, é um respeito que tenho pelo cara que toca guitarra no Brasil. Lembro que o Vieira, maior guitarrista de guitarrada do mundo, fazia os amplificadores dele, então há um heroísmo quando você se propõe a tocar guitarra. O álbum tem mais haver com essa atitude de tocar e estimular as pessoas a tocarem, é um instrumento que desenvolve a criatividade”, descreve o músico.

“Não é ostentação, é um respeito que tenho pelo cara que toca guitarra no Brasil.”

O trabalho tem previsão de lançamento para agosto, em Belém, e no mês de setembro em São Paulo. Lançado pela Natura Musical, o disco conta ainda com a produção de Felipe Cordeiro, o que deve resultar no melhor que os dois músicos tem a oferecer. Horas antes de subir no palco do 4° festival Sonido de música experimental e instrumental, Manoel descreve a importância de se ter um festival que valorize músicas desse segmento em uma cidade como Belém do Pará. “Isso é uma das coisas mais vigorosas, porque é tão difícil você fazer música experimental, instrumental e ter espaços pra tocar. Aí um festival aqui em Belém que tem essa proposta, isso é objeto de aplausos. É um festival muito interessante que promove a música instrumental brasileira”, conta.

O músico se junta a banda potiguar Camarones Orquestra Guitarrística numa fusão que deu certo muito antes de acontecer. “Já havia uma vontade de tocarmos juntos. Os caras tocam rock com guitarras iradas e eu com guitarras limpas, e nós fazemos uma mistura e um diálogo maravilhoso, e eu recomendo todos a ouvirem”, revela Cordeiro.

A gente preparou um vídeo especial, em que Manoel conta mais detalhes da sua relação com a guitarrada e destrincha pontos importantes de sua trajetória até o momento atual. O músico também faz questão de indicar os veteranos e a nova geração de músicos paraenses para quem quer conhecer mais afundo o ritmo.

Aperta no play pra assistir a entrevista completa!

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Imagens: Treme Filmes | Roteiro: Gabriella Salame | Edição de vídeo: Geovana Mourão | Edição de texto: Gabriella Salame | Imagens: Treme Filmes | Roteiro: Gabriella Salame | Direção de arte: Elson Britto | Reportagem: Gabriel Marques | Produção: Heleno Beckmann | Fotografia: Leandro Tocantins e Treme Filmes | Direção geral: Gabriella Salame | Estratégias digitais: Heleno Beckmann.