Garage Sounds: A intensa experiência do Underground e do Hardcore na Amazônia

Na edição desse ano, o Festival Garage Sounds percorreu 11 cidades brasileiras e, durante a energética experiência do festival rolando na beira do rio, a gente falou com uma galera que tem a música na veia e na raiz da própria história. Confere aí!

Redação por Lucas Pinto

João Lemos, guitarrista e vocalista do Molho Negro, se joga no público durante o show – Foto: Alfredo Matos

Quando adolescentes, mesmo sem ter certeza do futuro, nossa vontade é de ser grande. Não só ter liberdade, mas também ser reconhecido. O sonho de viajar, conhecer novas pessoas, outras culturas, vai ficando pra trás na medida que o tempo passa e os sonhos passam a ser objetivos: se formar, arrumar um emprego, pagar as contas no fim do mês.

Mais importante que nunca, lembrando o público que ainda dá pra sonhar, o festival Garage Sounds viaja pelo país levando artistas de nível nacional e fomentando a cena local de cada cidade, trocando experiências entre culturas diferentes. Teve sua primeira edição em 2017, em Fortaleza, mas em 2018 tomou a decisão ousada de excursionar pelo país, viajando por 5 capitais das regiões Norte e Nordeste. Esse ano, a ambição foi maior ainda e o festival passou por 10 cidades no Brasil e uma edição na Europa, até chegar em Belém.

GARAGE SOUNDS APORTA EM BELÉM
Esse ano, a maioria das bandas que tocaram em Belém são paraenses, e viajam por diversos estilos musicais, de hardcore até o indie, passando por metal e garage rock também. A diversidade de gêneros, públicos e artistas, cria a atmosfera de trocas culturais, que fazem do festival uma experiência única. Jhenifer Cohen, vocalista da banda Noturna, fala sobre como enxerga o Garage Sounds. “É uma vitrine que dá visibilidade, dá essa possibilidade pra artistas locais, é uma sensação maravilhosa”, conta a vocalista.

“É uma vitrine que dá visibilidade, dá essa possibilidade pra artistas locais, é uma sensação maravilhosa”, conta a vocalista.”

Jhenifer Cohen – Vocalista da banda Noturna durante show no Garage Sounds

Além do espaço para as bandas locais, o festival também contou com artistas de nível nacional que viajaram para todas as 11 capitais onde o festival foi realizado. Uma dessas bandas foi o Molho Negro, a banda de rock belenense que tem conquistado a cena nacional com suas letras irreverentes e com shows energéticos. A banda se mudou para São Paulo em 2017 e continuou a fazer shows pelo país inteiro. Segundo João Lemos, vocalista e guitarrista da banda, é especial terminar fazendo o show em Belém. “É um símbolo muito legal ser convidado pra participar disso, e pra mim é um ponto especial terminar aqui, que é a cidade da banda”, diz João Lemos.

“É um símbolo muito legal ser convidado pra participar disso, e pra mim é um ponto especial terminar aqui, que é a cidade da banda”

João Lemos (Molho Negro) e Dieguito Reis (Vivendo do Ócio) no palco do Garage Sounds

Para João, a ideia de um festival itinerante é ousada, mas é muito boa. “Você pega os mesmos artistas e vai circulando por vários lugares, junto dos artistas locais. Eu torço pra que cresça, que consiga se manter, ter outras edições”, ele completa.

A EXPERIÊNCIA DE QUEM FOI
Esse ano, o festival aconteceu em 3 palcos que revezavam suas atrações para que o público tivesse a oportunidade de assistir todos os shows, e aproveitar ao máximo a energia de todas as bandas. Os palcos ficavam de costas para rio Guamá, tendo as ilhas ao redor de Belém como fundo. Esse clima amazônico foi ótimo tanto para as bandas quanto para quem assistiu os shows.

Uma das pessoas que foi capturada por essa atmosfera foi Tiago Braga, que foi pela primeira vez ao festival. “Um amigo que veio no ano passado me convidou. Ele adorou, e disse ‘cara, tu tens que ter essa experiência também’, e eu tô achando demais. Tem muita banda que eu não conhecia e que tá me surpreendendo, eu me sinto renovado”, compartilha Tiago.

“Um amigo que veio no ano passado me convidou. Ele adorou, e disse ‘cara, tu tens que ter essa experiência também’, e eu tô achando demais. Tem muita banda que eu não conhecia e que tá me surpreendendo, eu me sinto renovado”

INSPIRAÇÃO, IDENTIDADE E REPRESENTATIVIDADE
O festival une um conjunto de pessoas de diversos lugares com diversas histórias, e isso influencia no jeito como cada artista interage com a música. Só de citar a cena de Belém que teve espaço, tivemos shows do Cinza, que tá se tornando um dos grandes nomes da nova música popular paraense, com sua sonoridade meio indie, shows da banda Cout, que vem crescendo e alcançando um público maior a cada show, shows de bandas já consolidadas como Sokera e Blocked Bones.

A Blocked Bones é um projeto belenense criado por Fil Alencar e já teve várias formações, já se apresentou em muitos lugares no Brasil e na América do Norte. Ivan Medeiros, baterista atual da Blocked Bones, nascido em Minas e criado em São Paulo, conta sobre como o Brasil influencia na banda. “O nosso som é muito influenciado por música americana, por ser cantado em inglês também, mas na verdade você vê que tudo é daqui, não é a mesma coisa de lá. Mesmo que seja a mesma linguagem, tem o nosso sotaque”, explica o baterista.

“O nosso som é muito influenciado por música americana, por ser cantado em inglês também, mas na verdade você vê que tudo é daqui, não é a mesma coisa de lá. Mesmo que seja a mesma linguagem, tem o nosso sotaque”

Fil Alencar, vocalista da banda Blocked Bones – Foto: Alfredo Matos

A Vivendo do Ócio é uma banda baiana que tá comemorando os 10 anos do primeiro álbum que tinha muitas influências do indie rock dos anos 2000, mas com uma pegada brasileira. E com os próximos álbuns eles começam a misturar ritmos brasileiros até chegar no ponto mais experimental e brasileiríssima até agora, no último álbum Selva Mundo.

Essa brasilidade inerente é o que permite o público se identificar, e isso é retratado na fala de Luca Bori, baixista da Vivendo do Ócio. “O Nordeste e o Norte, eu acho que são as regiões mais ricas culturalmente, e pra gente, representar essa região é uma das melhores coisas. Então sempre que dá pra inserir isso de alguma maneira em nossas músicas, em nossas letras, como referências, a gente coloca, sabe? Porque, pra gente é realmente orgulho representar”, explica Luca Bori.

“O Nordeste e o Norte, eu acho que são as regiões mais ricas culturalmente, e pra gente, representar essa região é uma das melhores coisas. Então sempre que dá pra inserir isso de alguma maneira em nossas músicas, em nossas letras, como referências, a gente coloca, sabe? Porque, pra gente é realmente orgulho representar”

Jajá Cardoso e Luca Bori em entrevista – Foto: Alfredo Matos

A VOZ DA CIDADE NO FESTIVAL
O acesso do público às bandas da cena local, que o festival permitiu acontecer, nos faz refletir sobre a nossa relação com a música produzida aqui, e essa reflexão é muito importante para que possamos valorizar o trabalho de quem tá lutando e incentivar quem ainda vai lutar. A gente conseguiu falar com a Raissa Coutinho, vocalista da banda Cout, que tá desde 2017 fazendo shows, organizando festivais e fomentando a cena.

Segundo ela, é importante ter esse contato com a galera no festival. “Muitas pessoas tiveram acesso ao nosso som ali e vieram procurar nas redes sociais, esse já é o primeiro passo [pra engajar o novo público]”, diz a vocalista. Ainda sobre a o incentivo do Festival Garage Sounds, ela comenta sobre a movimentação e presença das bandas locais. “É bonito ver como eles tão se preocupando em não só movimentar a cena no Brasil, mas aqui também”, comentou Raíssa Coutinho.

“É bonito ver como eles tão se preocupando em não só movimentar a cena no Brasil, mas aqui também”

Raissa Coutinho durante apresentação no Festival Garage Sounds – Foto: Alfredo Matos

O Garage Sounds desse ano permitiu que um público diverso se aproximasse tanto dos artistas de fora quanto os locais, que já tá fazendo a cena acontecer mesmo sem uma forte divulgação. E a gente destaca a sugestão do Fil Alencar, vocalista da Blocked Bones, pro público: “Parem de ver streaming, e venham pra esses festivais, porque eles são muito importantes. Saiam de casa, interajam com os seus amigos, parem de usar tanto as redes sociais”.

“Parem de ver streaming, e venham pra esses festivais, porque eles são muito importantes. Saiam de casa, interajam com os seus amigos, parem de usar tanto as redes sociais”


Produção: Gabriella Salame e Heleno Beckmann | Fotografia: Alfredo Matos | Redação: Lucas Pinto | Direção geral: Gabriella Salame | Apoio: Startup Fluxo

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